CDs: de principal fonte de renda de uma banda a meras ferramentas de divulgação

Inicio > Música > CDs: de principal fonte de renda de uma banda a meras ferramentas de divulgação    
30/12/2009

A maioria das pessoas sabe que o mercado da música mudou. Debates sobre direitos autorais e pirataria são frequentes nos jornais e na tv. Rostos de megacelebridades do mundo da música, de várias gerações, estão sempre disponíveis a usar a influência que têm junto ao grande público para emitir a mesma opinião sobre o assunto: “não compre CD pirata, não faça download ilegal”. É um ponto de vista que merece ser ouvido e respeitado. Mas é apenas um ponto de vista.

O fato concreto é que muitas bandas e compositores das novas gerações preocupam-se cada vez menos com a venda de CDs e cada vez mais com apresentações ao vivo, aprovações de projetos de circulação por meio de editais e formação de público com interação virtual. O CD tende a tornar-se, cada vez mais, meio de divulgação, seja no formato físico – vendido nos shows a um preço bem menor do que o das prateleiras das megastores – seja no virtual, disponibilizado para download gratuito na internet.

Não faltam críticas contundentes a essa tendência – e algumas delas são bastante pertinentes. Talvez seja preciso perceber, entretanto, que não deixa de ser positivo, ao menos em alguns aspectos, o momento que vivemos. Trata-se, em certo sentido, de uma oportunidade única, até histórica, para quem quer fazer música, sem prender-se às tendências da indústria cultural, às suas cifras incalculáveis (e, muitas vezes, ilusórias para a maioria dos compositores) e ao culto às celebridades.

Note-se, por exemplo, que jamais houve tantas chances de músicos talentosos, de todos os gêneros, viverem de sua arte. Do ponto de vista financeiro, os custos e esforços necessários para registrar um trabalho musical de qualidade são, hoje, bastante baixos em relação ao que já foram antes. Os sites de relacionamento, além dos próprios CDs, são meios pelos quais a divulgação das canções pode ser feita. As grandes gravadoras, cujos processos, na maioria das vezes, tendiam à massificação das obras e dos artistas, não são mais necessárias para fazer música e viver dela.

Além disso, do ponto de vista estético, nenhum artista precisa prender-se às exigências do mercado e da indústria fonográfica. É possível experimentar todas as propostas, testar todos os formatos, errar à vontade. E contar com a possibilidade de que sempre haverá, entre o público, nichos específicos que gostem do trabalho e que queiram dar-lhe sustentabilidade e visibilidade, sem a megalomania do culto às celebridades.

Aliás, talvez seja este o grande desafio de todos os envolvidos no mercado de música: a formação de um mercado intermediário, de proporções médias, sem o amadorismo dos iniciantes e sem as cifras absurdas (e ilusórias para a maioria dos músicos, repita-se) das grandes (e obsoletas) gravadoras. Um mercado médio, em que sejam promovidas obras de propostas originais, livres de amarras que as imbecilizem, cujos autores e outros envolvidos possam ser remunerados pela qualidade intrínseca de seu trabalho.

————————–

*Rogério Duarte é diretor da Identidade Musical, especializada em gestão de carreira e produção executiva de bandas independentes. Palestras sobre modelos de negócios fonográficos, realização de eventos, pesquisa de mercado e comportamento do público também são alvo de interesse e desenvolvimento da Identidade Musical. Para saber mais, acesse: http://www.identidademusical.com.br.

 

 

 

 

Deixe um Comentário